domingo, 14 de setembro de 2008

lagartixa

eu não sei bem... mas parece que a noite vem rondando
e o sol que eu estava tanto querendo segurar
se foi.
eu pintei as unhas
de lilás
parece que isso pode me redimir
de alguns pecados originais
parecer limpa
parecer
me soa
hipócrita
então eu atribuo algo de profano ao lilás
isso desde sempre.
as unhas foram todas, as das mãos
e as dos pés
eu devia fotografar, como antes
sei lá, mimeografar
eu me sinto especial
eu não me sinto um todo junto com todos
eu posso estar enganada
mas não há tantos que possam me acompanhar
e o lilás me lembra
não o entardecer, nem o amanhecer
mas
um momento antes de cada um deles
um só momentozinho inrrecuperável
irregistrável
é lilás mas é só por um segundo
e não sai na foto
será que um dia a tecnologia, a ciência
eu não saberei.
será sempre como nada para mim.
Em trânsito pelo infinito lilás que ninguém nunca viu
engraçado
eu não me inporto mais e acho que assim está melhor
porque antes eu me importava e sabia que nada podia fazer
por eles
principalmente as criancinhas.
Danem-se as criancinhas, é o que dizem meus atos hoje
Assim como os de todos que eu já devia ter adotado
mas acontece muito rápido
e aconteceu muito devagar.
acho que não preciso te contar sobre os papagaios
dourados brilhando sob o sol
sobre o dia de sol a cadeira eu deitada
o sol
a quentura na barriga queimando
um queimar localizado parece direcionado
quente como nunca mais pra trás
uma espera preguiçosa pelo seu desaparecimento gradual.

terça-feira, 8 de abril de 2008

carta a quem nem me importa

Eu resolvi que vou escrever todo dia. Isso, todo santo dia, aqui nesses 3 blogs empoeirados. Hoje meus dedos entre teias de aranhas dançaram, e vê-se, estou ridiculamente poética. Sei que é ruim e de melhora já não tenho esperança e não é o foco. É que falta, é que o vazio pesa, talvez porque esteja cheio, e talvez porque baste sem saciar publicar, publicar, publicar. Vaidade, mas individual. Ou nem tanto. Enfim, é atitude puramente egoísta, é escravidão, eu resolvi, mas sabe-se, não fui eu. Que matei a poesia, quem dera ter sido. Escrever para alguém além de mim, ah não, as pessoas, as que estimo, merecem palavras faladas. No ouvido, no olho, na carne, nas unhas cravadas. Escrever para o amor, ah não, que eu vejo agora, quando o amor está perto, que é o amor que me importa, ele merece uma fala. Escrever é para mim, isso é claro, hoje.
A quem me importa, palavra falada.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

vamos a uma nova

Nova versão da vida, mar filtrado, renovado, invisível, nova, nova versão em que nada machuca porque nada é nada. E daí se o ano entrou, saiu, ficou, morreu, uma nova versão da vida vem com sangue que pulsa, esquentar a frieza, alisar pêlos longos, falta. Nunca a fome tanta e a necessidade da dieta, da moderação, mas nunca a sede tanta, bebe como esponja, esconde-se em baixo da cama, tranca a vida num chip, ali deixa. A vontade tanta de parar e suspirar. Um choro incontido às vezes, ronca, soa, esperneia, uma vida na sombra. Mas nada, nada, pra quê parar. Parar dói. Tem que ser assim, desorganizado o pensamento, coisa sem coisa, rápido. A velocidade é o importante. Mas vão-se acumulando bagulhos dentro. Medo.