segunda-feira, 25 de junho de 2007

Para onde

O que acontece que a vida se extingue
Ficam perguntas
Para onde vai?
O que era, para ir-se com tanta facilidade?
A nossa fragilidade
A do nosso corpo
Que leva junto a alma, imaginação, universo abismo profundo
Um minuto viva
Outro coisa
Mole
Os braços sem movimento
Se pegam sua mão e levantam, cai
Boneca.
Antes liberdade, sonhos, olhos brilhando
Agora
Uma coisa como esta garrafa d’água ou esta mesa.
Onde está?
E onde estamos
Todos nós continuamos
Somos indivíduos ou uma espécie
Hoje
Não mais sabemos.
E a falsa sensação de controle desaparece
Porque a vida é de um poder absoluto
Não se recorre, não se arrepende
Quando é ela que se coloca à sua frente
E muitas perguntas para os que não a conhecem
Vida, morte, nomes diferentes para a mesma força
Perguntas
Vale a pena ficar de frescura?
Brigar, não ligar, sentir rancor?
Se um dia ela leva para não sei onde
Uma ilusão de vida da gente?

terça-feira, 19 de junho de 2007

hospital

se eu te peço socorro, é porque há um hospital num teu canto escuro
com que topei na hora de me embriagar com mais um desejo
que me fizesse esquecer a incurabilidade dessa falta de senso.
É porque há uma espécie de entorpecente na tua boca
É porque há a mesma carência no teu sexo
e nas minhas compulsões por endorfina e queijo
engraçado, quaisquer não satisfazem.
Talvez se eu comesse, literalmente, a tua carne.
Depois viria uma culpa estranha por ter aniquilado um universo que eras
E uma dor de estômago não maior que esta que na alma sinto
Por não saber o que é alma.
Mas o canibalismo não resolve
Porque a fome não é do aparelho digestivo.
É alguma fome que nasce na cabeça, ou assim se pensa
E eu te penso, incrédula
?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

sublimação

Só suspiro, é só ar agora aquele desejo que já não me queima viva a memória da tua boca e quase, por pouco não esqueci o verdor dos olhos, a temperatura da pele que me ferveu o sangue borbulha agora num só ponto central do obscuro peito. Essa distância embalou meu desejo em pacote de ar, em ar que me adentra e extirpo das ventas. Toda uma euforia sufocada em calma sem amanhã.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

os dias. ponho dentro de um saco e arrasto. são tantos os trapos que os dias arrastam pelas ruas quando faz esse frio. os trapos são que a vida arrasta novos mundos para dentro deles para fora de nós. cada trapo, cada fedor, cada gosto de piolho, cada pé rachado, são uma outra versão de mim. por isso colorindo as unhas ensaboando os cabelos perfumando o pescoço e arrancando os pêlos, sou a fuga do refugo, sou a negação do inevitável, sou a morte carregada de flores, sufocada de flores, insuportavelmente asfixiada de flores cheirosas. deixa-te ficar no escuro de uma caverna às custas do nosso calor, deixa-te criarem odores na pele provenientes dos nossos fluidos em profusão, nunca mais saia de dentro da caverna escura do ser e dá-me abrigo, e dá-me as impurezas que produz o teu suor na tua humanidade, quente, despido de perfumes, sabonetes ou shampoos. meus dias liberto para que sigam bêbados teu perfume.

sábado, 2 de junho de 2007

MINADO

Pensando sobre esse jogo, o campo minado, diversão ou vício a que me entrego incondicionalmente quando quero esvaziar o balde de água suja da minha cabeça, eu descobri. Meu coração, meu coração é um campo minado. Mas meu coração é tão pequeno. Então é como se todas as bombas estivessem praticamente no mesmo lugar. Explodem, arrebentam-me o peito, mas já têm outras onde não sei, explodem de novo porque eu, nunca acerto onde pisar, que não tenha bombas. Eu tento a lógica aristotélica, mas há as situações indecidíveis, em que é preciso escolher um ou (exclusivo) outro quadradinho. Sempre escolho o errado. Mas será o errado pisar nas bombas? Não o será fugir delas? Sei lá. Vou jogar porque a segunda-feira é longe, e quem sabe a terça, porque ninguém não tenho que ninguém não quero a não ser, porque nunca se sabe onde vai dar a vida, se a gente vai se assassinar. Ah. Pinga a gota de vinho. Uma perplexidade diante de uma coisa que aconteceu rápido e não assim, escorrendo aos poucos. Uma perplexidade diante da incerteza, incerteza que é mais para fim. Na lógica paraconsistente, seria a região de quase-falsidade tendendo à inconsistência, talvez. Cara, eu acho que um dia desses, não sei, não sei onde vai parar o meu juízo. Porque tudo aconteceu e agora, a vida quer te esmagar de novo, não restando à minha degustação nem um pedacinho. Eu, prefiro ao rolo compressor, as minhas bombas.